Onde estão os leprosos?

A cada dia eu fico mais preocupado. Quando Francisco morreu deixou um legado uma missão para aqueles que queriam seguí-lo. A continuidade dessa missão iniciava segundo o seu Testamento quando:

1- (...) o Senhor me concedeu a mim, Frei Francisco, iniciar uma vida de penitência: como estivesse em pecado, parecia-me deveras insuportável olhar para leprosos.
2. E o Senhor mesmo me conduziu entre eles e eu tive misericórdia com eles.
3. E enquanto me retirava deles, justamente o que antes me parecia amargo se me converteu em doçura da alma e do corpo. E depois disto demorei só bem pouco e abandonei o mundo.

Hoje ao nos olhar, aqueles que dizem que queriam enxergar o Cristo como ele, constato que abandonamos os leprosos. Não os leprosos literalmente, ou seja aquelas pessoas que foram acometidas pela Hanseníase, mas sim todos aqueles que são vistos como leprosos. Aqueles que precisam ser separados por muros, depositados em abrigos, leitos de instituições que cuidam de abandonados, aqueles que são obrigados a morar em palafitas e em lugares insalubres por que a sociedade os vê com diferentes, como seres que não merecem uma vida digna.

O ideal franciscano foi transformado em ideal filosófico. Isso é, falamos de uma fraternidade universal onde o meio ambiente, que é um ponto fundamental de nossa espiritualidade, passa a ser o ponto de partida. Melhor não seria amarmos aqueles que estão próximos de nós, porém excluídos de nossas vidas, precisando ser abraçados e ensinados.

Porque Francisco fala em primeiro lugar dos leprosos? É um fato fortuito? Ou será que ele quer chamar a atenção para a importância de viver entre os abandonados? Acredito que ele quis deixar uma pista. Objetivava nos chamar a atenção, para o fato, de que para seguir o seu ideário precisamos conviver com aqueles que foram renegados ao último plano. Mas porque nossas fraternidades insistem em não fazer isso? Porque não somos um sinal da presença de Deus entre os excluídos?

Essa reflexão deve ser aprofundada. Vejo muitos Símpósios e Congressos sobre o meio ambiente, vejo muitas imagens de Francisco com os animais, porém não vejo muitas imagens que retratem sua vida entre os leprosos. Precisamos refletir. Queremos seguir o Poverello ou queremos somente ser devocionais a sua figura, ficar lembrando os grandes feitos e os milagres daquele que não era teórico mais prático.

Lógico que esse ir entre os leprosos não pode ser um ativismo. Esse movimento deve ser um movimento evangélico. Assim como o faziam os primeiros irmãos menores. Cuidavam dos pobres, dos leprosos e falavam de Deus. Deus era a mola mestra dessa engrenagem. Cristo era o instrumento de transformação da vida das pessoas. Falar e demonstrar o amor que ele nos ensinou era fundamental

Tenho participado de muitos encontros em que os irmãos reclamam que as fraternidades estão vazias e sem motivação. Será que ao começarmos a fazer um trabalho com os pobres a nossa fraternidade não vai conquistar novas vocações. Pois foi assim que Francisco chamou a atenção dos irmãos na sociedade de sua época. Tanto que para o irmão ingressar em seu grupo precisava dar tudo que tinha aos pobres e viver entre os leprosos.

Por isso irmãos jufristas, iniciantes, formandos e outros tantos que desejam abraçar a vida franciscana secular, vejam que Francisco partiu de um sonho para a realidade. Ele não viveu sonhando o tempo todo. Foi a luta escutou o chamado e pôs-se a fazer algo. E segundo ele duas coisas são fundamentais para os Católicos Franciscanos, Primeiro ir ao encontro dos leprosos. Depois viver em fraternidade pois segundo o Pobre de Assis:

14. E depois que o Senhor me deu irmãos ninguém me mostrou o que eu deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que eu devia viver segundo a forma do santo Evangelho.

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